Os Donos da Noite [Review]

James Gray, conhecido por abordar intimamente os personagens e por andar por temas como família, crime, ambientados em Nova York, entrega em “Os Donos da Noite” um drama denso, ancorado na dualidade entre dever e liberdade. O filme, claramente inspirado em “O Poderoso Chefão”, não apenas reverencia a obra-prima de Francis Ford Coppola, mas subverte sua trajetória, invertendo a jornada clássica de Michael Corleone.

O protagonista, vivido por Joaquin Phoenix, administra uma boate frequentada por criminosos, um espaço que simboliza sua independência e o afastamento da tradição policial de sua família. Seu irmão (Mark Wahlberg) e seu pai (Robert Duvall), ambos policiais, representam o oposto: a rigidez e a institucionalização. Phoenix vive com intensidade a vida que escolheu, cercado de prazer e liberdade, até que um evento traumático o obriga a se reaproximar da família. É nesse ponto que a narrativa ganha força, transformando o arco do protagonista em um estudo sobre identidade e sacrifício.

Ao contrário de Michael Corleone, que abandona sua moralidade para se tornar o chefe da máfia, o personagem de Phoenix caminha no sentido inverso: abandona sua identidade para se adequar ao que se espera dele. Essa transição é dolorosa e cheia de ambiguidades, e o filme se destaca ao explorar o custo dessa escolha. Valeu a pena? A felicidade está na aceitação ou na negação de sua origem? São questões que permeiam durante toda a projeção.

Além do protagonista, os coadjuvantes também possuem camadas que se revelam durante a narrativa. O irmão, que sempre seguiu as regras, inveja a liberdade daquele que parecia viver sem amarras. O pai, que equilibra amor e agressividade, manifesta preocupação e autoridade de maneira dura, reforçando a complexidade das relações familiares. A direção de Gray valoriza esse estudo de personagens, utilizando a cidade de Nova York como um espaço sufocante e hostil, onde cada escolha cobra um preço.

“Os Donos da Noite” não se limita a ser um thriller policial, mas um drama psicológico poderoso, digno de ser lembrado como uma das grandes reflexões sobre identidade, família e o peso das escolhas.

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